segunda-feira, 30 de março de 2015

SUCESSÕES DO AXÉ

        De uma religião nascida da fusão de conceitos e tradições africanas, na tentativa de criação de um núcleo familiar de axé, onde os negros que aqui viviam, e não gostariam de retornar, como foi o caso de Iya Marcelina Obatossi, houveram divergências nas questões de sucessões. Pelo menos no aspecto histórico e, essas divergências geraram outras casas, que numa abrangência de situações são oriundas do axé original: Ilê Axé Iya Nassô Oká.

        Original, no sentido de inicial não de pureza.

        Segue a linha de Sucessão da Casa Branca do Engenho Velho.



1. IYA NASSÔ OKÁ

        Sacerdotisa que deu início ao mítico Candomblé da Barroquinha e que fundou o Axé da casa Branca, que recebeu o nome em sua homenagem de: Ilê Axé Iya Nassô Oká. Essa princesa não retorna ao Brasil depois da fundação do Ilê axé Airá Intilé (candomblé da Barroquinha), que teve de ser reconfigurado em outro lugar, por questões políticas.

2. IYA MARCELINA OBATOSSI

       Sacerdotisa que fora iniciada por Iya Nassô, fundadora do Ilê Axé Iya Nassô Oká. Alguns históricos constam que Iya Marcelina possuia ligações cosanguíneas com Iya Nassô. Sua sucessora passa a ser  Mãe Maria Julia Figueiredo, que era a Iyalaxé do Axé, porém há uma disputa interna para elevação à cadeira da casa com Mãe Aninha. Essa disputa faz com que mãe Aninha funde o Ilê Axé Opô Afonjá.


3. MÃE MARIA JULIA FIGUEIREDO

       Uma mulher de fibra que participara de grandes movimentos políticos e sociais na Bahia. Membro da sociedade da Boa Morte, Iya de respeito na possível existência da Sociedade Gelede. Filha de Oxum. Alguns dados históricos dizem que exercia o cargo de Iya kekerê da casa na gestão de Mãe Marcelina.

4. MÃE URSULINA DE FIGUEIREDO

     Também conhecida como Mãe Sussu, foi trazida da África com sete anos de idade, à pedido de Iya Adetá, sacerdotisa de Osossiy, no afã de manter a linhagem do culto. Já veio ao Brasil iniciada nos cultos de Orixás.


5. TIA MASSI

    Mãe Maximiliana Maria da Conceição, iniciada ao Orixá Oxalá.


6. PAPAI OKÉ

   Mãe Maria Deolinda dos Santos, também iniciada para o Orixá Oxalá. Tinha por característica uma maternidade bondosa e atenciosa, sempre atenta aos problemas da casa, filhos e comunidade. o respeito era tamanho que as pessoas a chamavam de "papai Oké" em respeito ao seu Orixá.


7. MÃE MARIETA VITÓRIA CARDOSO

    Iyalorixá iniciada para Oxum, uma das mais expressivas historicamente. Sucedida por Mãe Tata.


8. MÃE ALTAMIRA CECÍLIA DOS SANTOS
   
     Iyalorixá iniciada para o Orixá Oxum, filha sanguínea da sexta Iyalorixá da Casa Branca, Mãe Maria Deolinda dos Santos.  Sua gestão tem como marca a ajuda/apoio da  Iya Kekerê Juliana da Silva Baraúna, conhecida como Mãe Teté de Oyá que funda sua casa de candomblé no Rio de Janeiro (veio a falecer em 2006). Também teve sua gestão apoiada por Mãe Nitinha de Oxum, que foi fundadora do Terreiro de Nossa Senhora das Candeias, em Miguel Couto (BA), Mãe Nitinha faleceu em 2008.




  

terça-feira, 17 de março de 2015

MATRIARCALIDADE RELIGIOSA




"E kunle o, e kunle  f’'obirin o. 
E obirin l’o bi wa. 
k’a t’obirin ni, e kunle
f’obirin o. E obirin l’o bi wa o, k’awa to d’enia."


"Prostre-se, Prostre-se para a Mulher.
A mulher nos colocou no mundo
Assim, dela se faz a humanidade,
A mulher é a inteligência da Terra.
Ajoelhe para ela!"


       Este pequeno trecho versado pertence ao Odu Ossá Meji, onde podemos perceber a importância da mulher e suas atribuições dentro dos padrões religiosos na africanidade. Óbvio que o homem tem o seu papel a ser desempenhado, por exemplo, culto de Egungun e os cuidados com os ancestrais masculinos (Essás/ Eguns); mas, todos os demais papéis cabem à mulher com a possibilidade ou não de haver a participação masculina.

      A própria cosmogonia iorubana fala da falha do papel masculino em fazer a Criação pedida pelo Deus Supremo (Olorun). Onde, no mito (Itan), Oxalá teria descido ao Aiyê (Terra física) para deixar o chão firme e possibilitar a Vida. Mas, falha ao cumprir sua missão, pois, no papel de Grande Senhor de Respeito, não agradou o Destino (odu) ou Esu (senhor das comunicações, à quem tudo deve ser dirigido, em primeira instância) o impediu de concretizar a missão dada pelo Pai Maior. Assim, coube a Odudua o cumprimento da tarefa. Ficando a mulher responsável pela criação da Terra e senhora da Criação e doação da vida. Óbvio que esse itan se faz de maneira muito mais complexa do que a forma que citei. (Vide: Igbadu: A cabaça da existência, um livro que fala das relações cosmogônicas da tradição iorubá).



O PODER DO FEMININO: QUESTÕES HISTÓRICAS


      Culturalmente, no final do século XVIII e início do século XIX, o Brasil passa por períodos de descobertas, de busca de uma identidade, que não a portuguesa. Assim, o processo de formação do Candomblé calha justamente com a necessidade de uma reconstrução de identidade do povo brasileiro. Portanto, para que a construção fosse feita, as Princesas e os babalaôs envolvidos no processo de descoberta e fundação do axé brasileiro necessitavam discutir assuntos como: Quem senta na cadeira? Essa expressão significa: quem chefiará a religião? Como será o pontificado, quem será o pontífice, o cargo mais alto e a referência?
   
       Na África, apesar da grande importância do papel da mulher, cabia ao homem a coordenação dos atos religiosos, o REI de determinada tribo, direcionava os cultos e, por vezes, ditava as regras. Cabia a mulher, porém, como mostram os estudos africanos, o transe e as noções de contato maior o sagrado pelo sagrado. Porém, aqui no Brasil esse processo se diferenciou, como já demonstrava acontecer em muitas aldeias africanas. As princesas instauram uma religião Matriarcal e Matrilinear, além de Matrifocal, como podemos observar até hoje no Ilê Axé Iya Nassô Oká e outros.

       Se o público de fiéis que engrossam as fileiras das instituições religiosas é majoritariamente feminino, como explicar que às mulheres ainda seja vetada a participação como ministras ordenadas na Igreja Católica e em um sem número de igrejas protestantes “clássicas” e pentecostais?
                                                                                           (ORTNER E WHITEHEAD, 1981, p. 16 apud SEGATO, 2000, p. 88)
      
      Na citação acima de Ortner e Whitener, podemos entender o porquê as mulheres assumem posições de destaque dentro das Tradições Africanas no Brasil. Foi por meio do sangue real nas veias das mulheres que a religião se fez presente aqui, o axé plantado aqui no Brasil foi irrigado pelas mãos femininas. Devemos então ressaltar que a vida vem do ventre delas, como o axé é físico, vivo e intenso, os itans e rezas mostram que foi do ventre da mulher negra que ele se fez presente. Historicamente, no Brasil, Vagner Gonçalves da Silva, em  sua obra Candomblé e Umbanda: Caminhos da devoção brasileira (1994), cita que outras razões que implicam na inversalidade do que ocorria na África estão na alforria feminina que se deu de maneira mais rápida, porém apesar da liberdade as mulheres negras continuaram empregadas domésticas, cozinheiras e lavadeiras, ou seja, com grande contato com o branco, necessitando para tanto, desenvolver habilidades políticas e dirigir seu povo e cultura, ao mesmo tempo. O domínio das situações políticas fez com que suas habilidades estivessem em evidência, deixando a mulher em posição de destaque, mesmo que submissa ainda à uma política conservadora e preconceituosa na Sociedade Branca.
     
     Estas mulheres podem circular livremente e fazer os mercados das cidades vizinhas ou relativamente afastadas. Como são geralmente boas comerciantes, tornam-se, em pouco tempo, mais ricas do que o respectivo marido e muitas vezes, amealham fortunas consideráveis. O que, no entanto, não dispensa este da obrigação de assegurar a subsistência das suas mulheres e filhos                                                                                                                                                                                                                      (VERGER, 1992, p. 100)

       Nas diversas obras de Verger ainda podemos destacar que outro motivo circunstancial para que a mulher emergisse na posição de poder é seu número elevado, haviam muito mais mulheres que homens livres e elas conquistavam consideráveis posições financeiras, numa sociedade em que tudo cooperava para que isso não acontecesse. Não surgiram assim homens de destaque, com poder e conhecimento. Mesmo, Baba Assiká e Baba Obitikô precisaram buscar conhecimentos das mulheres para que o Candomblé se fizesse no Brasil. Certamente, dois homens com papéis fundamentais no processo de formação da religião de Ketu.
   


A DANÇA, O FEMININO E O ENCANTO



       Na minha época, eu nunca vi homem dançando
(Iya Stella de Osossiy)

       A dança é parte integral da religião, não se trata de mito, ou mesmo de parte social. Mas, faz parte integral do que é, de fato,  Axé. No Ilê Axé Opô Afonja, homem nunca fez parte da Roda (onde o rito sagrado da dança acontece), foi Mãe Stella que os acrescentou nela, mostrando uma certa abertura para a participação masculina no ato sagrado.

"As danças constituem uma evocação de certos episódios da história dos deuses. São Fragmentos de mitos, e o mito deve ser representado ao mesmo tempo que falado para adquirir todo o poder evocador" 
(Batiste, 1978:22) 

        Obvimente, faz parte da integralidade da Iniciação para religião, aprender a dançar, cantar e rezar os atos religiosos, mesmo para o homem (Iyawo ou Ogã). Mas, parte da roda de santo, o homem se ausenta do meio do salão para que as mulheres se façam presentes. E apenas retorna ao Salão na Roda de Xangô, onde ocorrerá a "reza" que elevará todos ao transe/possessão. Ao abrir o espaço para os homens, mãe Stella quebra um tabu porém, atualiza, de maneira necessária, alguns conceitos religiosos.

          Tabu social também é considerar a dança uma questão masculina, um pensamento complicado para a sociedade ocidental e cristã que sempre atribuiu essa 'função' à mulher, desde os primórdios históricos, sendo a dança um caráter feminino. Somando essas questões com o extremo exercício feminino na religião, conseguimos perceber que  manipular o conhecimento da dança, para mulher, também significaria ter o conhecimento da religião em si. Já que, nas palavras de Batiste (1978) a dança guarda o registro das passagens do deuses louvados, bem como sua magística. 



MATRIARCAL, MATRIFOCAL, MATRILINEAR E MATRILOCAL


    
      Começando pelos conceitos, de maneira geral, podemos dizer que matriarcal é sociedade que possui matriarcalidade, ou seja, onde a mulher exerce o domínio social e econômico. Matrifocal, palavra que alavanca a importância do papel da mulher dentro da sociedade, assim, uma sociedade matrifocal é aquela em que a valorização é explícita e elaborada sobre o papel da mulher, a mulher assim, tem os recursos totais das decisões.

         Já a sociedade cujo poder é matrilinear deixa claro que, aquela que assume o poder é a mãe e na ausência desta, sua filha exerce o mesmo. Portanto, relação de poder onde somente a mãe é considerada. Matrilocal, etnologicamente, é a sociedade em que quando o casamento ocorre, o homem deve morar com a família da mulher e, integrar o grupo dela.

    Essas são as quatro palavras que resumem a religião iorubana tradicional em seu início no Brasil. Basta que pesquisemos as biografias e as sucessões da 'cadeira' de axé nas casas principais!


TATTO BARROS




      
        
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Ática, 1994.
VERGER, Pierre. A contribuição especial das mulheres ao candomblé do Brasil. In: Artigos. São Paulo: Corrupio, 1992.  
BATISTE, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo: A velha magia da Metrópole nova. SP: EDUSP. 1991

Recomendação: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-09082004-085333/pt-br.php  (DANÇA no Candomblé)

     
       





      




segunda-feira, 9 de março de 2015

A BARROQUINHA II

    

        
       Como vimos no texto anterior, a formação da Barroquinha se deu claramente pela união de três princesas: Iya Adetá, Iya Akalá e Iya Nassô que com Obatossi (Iya Marcelina) formaram o primeiro Terreiro de candomblé. O nome "terreiro" foi empregado porque expressa o local inicial em que os cultos eram realizados, arredores (terreno) da Igreja da Barroquinha. Como bem sabemos, "terreiro" é um sinônimo de "terreno", principalmente na região nordeste do Brasil.
    Algumas curiosidades ficam ressaltantes antes de entrarmos nos detalhes  da formação do candomblé. Segundo Iya Senhora, Iyalorisa do Ilê Axé Opô Afonjá em 1910, para o historiador Vivaldo da Costa Lima,  Iya Nassô teria um título de axé (algo como um cargo religioso) que era o de Iya Akalá, sendo portando apenas um segundo nome de Iya Nassô e não uma terceira pessoa na fundação do candomblé. Havia portanto duas princesas e Iya Marcelina.
       A junção das princesas ocorreu pelas idéias iniciais de dois babalawos: Baba Assiká e Bangboshê Obitikô. Segundo alguns dados históricos, Bangboshê Obitikô tinha como nome civil Rodolfo Martins de Andrade, era um traficante e comerciante de escravos, também era africano. Babá Assiká ou Axipá, para alguns estudiosos se trata, na verdade de ancestral divinizado (egun), sendo Assiká um egun de Odé ou Ogun, trazido nessa época por Bamboshê junto com os preceitos dos eguns: Aburô de Xangô, Kayodé de Odé e ainda, Ajadi, Adirô e Akessan (Esu do Mercado), lendo a obra de Pierre Verger é essa versão que temos. Ainda em outros conceitos históricos, talvez os mais prováveis, devido dados precisos dizem que Baba Assiká e Baba Obitikô, eram babalawos africanos que trouxeram o Opele Ifá para o Brasil e ainda, alguns escravos, no afã de formar uma sociedade religiosa com aqueles que aqui se estabeleceram, eram assim, altos oficiais do Culto de Osossiy (Oxosse/Odé). Em Juana Elbein e para o Antropólogo Renato Silveira, Baba Assiká teria sido o Orientador Espiritual de todos, inclusive de Banboshê Obitikô.
       Com a junção do conhecimento de todos os presentes, Babás e Iyas, Marcelina Obatossi com sua Iyalorixá fundam o primeio Ilê, na Barroquinha, onde mais tarde seriam expulsos pelas autoridades politicas e militares. Forçando a mudança destes para o Engenho Velho da Federação e a fundação de um outro ilê, que existe forte e resistente até os dias de hoje.
       Devemos considerar ainda que, segundo Verger, a mãe de Iya Nassô, foi uma escrava liberta/alforriada que retornou à África, deu à luz e sua filha vem ao Brasil no afã de trazer o "axé", incentivada pelos babalawos. Porém, sua chegada está relacionada também com a vinda da Familia Real Arô, que cultuava Osossiy em Ketu. Foram aprisionados pelos Daomeanos e trazidos pelos brancos ao Brasil. Entre os 200 (contagem superficial) escravos vindos, Otampê Ojarô se fez presente, recebeu o nome de Maria do Rosário Francisca Régis e foi uma das responsáveis pela criação do ILÊ AXÉ AIRÁ INTILÉ, nome religioso da casa de Candomblé da Barroquinha. Iya Otampê Ojarô, funda depois sua própria casa. O Terreiro do Alaketu, Ilê Axé Mariolajé. Os religiosos acreditam piamente que Iya Otampê Ojarô fora alforriada pelo próprio Oxumarê, em pessoa!
       Ainda na obra de Verger outro nome se faz presente. Iyalussô Danadana, uma descendente da familia de Ketu, que ajudou a introduzir aqui no Brasil o culto de Osossiy.  Por causa de todas essas famílias de Ketu e Arô o culto a Odé / Osossiy se faz o mais famoso no Brasil. Ainda que, quase extinto na Africa.


POR QUE O PRIMEIRO TERREIRO É DEDICADO AO ORISA AIRÁ?



       Iya Nassô era uma das pessoas mais ilustres da comunidade de Oyó na Africa, então a casa louvava o Orisa Sango, específico da Terra de Oyó e Airá, para alguns qualidade de Xangô, para outros orixá distinto, apesar de ter ligações. Assim, numa espécie de convenção a casa passa ter Airá como patrono.  Iya Nassô leva sua filha Iya Obatossi para África, no afã de buscar axés, minerais e vegetais que aqui não existiam. Quando Iya Obatossi retorna traz consigo mais pessoas ilustres, porém Iya Nassô não retorna mais. Então, depois de expulsos da Barroquinha. Vão fundar a casa de Candomblé: ILÊ AXÉ IYA NASSÔ OKÁ. Em homenagem à sua Iyalorixá. A Casa Branca do Engenho Velho. Que tem como Patrono Xangô e dono do chão, Oxosse.

Tatto Barros



Referências:

Silveira, Renato da. Candomblé da Barroquinha. Ed. Maianga, 2007
Cacciatore, Olga Gudolle. Dicionário de Cultos afro-brasileiros
Elbein, Juana. Os Nago e a Morte. Ed. Vozes, 2002



domingo, 1 de março de 2015

A BARROQUINHA


foto de: http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/as-irmandades-leigas.htm

Iya Adetá, Iya Akalá, Iya Nassô, Babá Obitikô e Babá Assiká! Esses são os cinco nomes que, de forma obrigatória, estudamos e vivenciamos ao entrar para as tradições ketu. Isso porque, a ancestralidade é o quesito elementar dos aspectos religiosos ligados à África. Vivenciamos os nomes, chamamos por todos aqueles que vieram antes de nós, sendo eles importantes para as tradições. As pessoas que se fizeram importantes para o Axé, depois de mortas, ainda são vivenciadas, numa prova de que, para os religiosos, a morte não é um fim, apenas uma mudança do Estado da Consciência (ou plano), portanto, para sempre os nomes comporão as orações do candomblé.
Algumas pesquisas divergem entre si sobre a identidade e mesmo sobre a origem fatídica da religião. Mas, de modo geral, podemos dizer que, já nessa época (séc.XVIII), como sempre foi, os negros cultuavam seus ancestrais divinizados – os Orixás, de forma individual, assim Iya Adetá, Iya Akalá e Iya Nassô resolveram se juntar com Obatossi, de nome civil, Marcelina de Jesus (filha de santo de Iya Nassô, alguns dizem que era prima de sangue também) e, cada uma com seus ancestrais resolveram fundar um ‘culto’ em conjunto, onde estabeleceriam como adorariam e as hierarquias. Óbvio que, a junção dessas mulheres se deu graças à dois babalaôs (pais do segredo) Bangboshê Obitikô e Babá Assiká.
Babalaôs são homens que se iniciaram no culto de Ifá, onde aprendem desde criança, por isso está ligado às tradições familiares, os segredo dos Odus (marcas do destino) e seus desdobramentos sob as visões da vida, dos orixás e das tradições africanas.
A Bahia, nesta época (Final do Séc. XVIII) vivia um grande ‘boom’ econômico e então recebia muitos navios e povos de diferentes locais, devido o tráfico negreiro ilegal e as trocas comerciais, principalmente Salvador. O Estado também vivia uma diferenciação, o surgimento dos negros livres e alforriados que, de alguma forma, ascendiam financeiramente (mesmo que de maneira modesta, claro).

O ponto culminante que propiciou o surgimento do candomblé, reunião de cultos, da forma que conhecemos hoje está relacionado com a Igreja Católica da Barroquinha em Salvador, hoje não existe mais essa igreja, no local há um centro histórico. Dentro dos cultos católicos o surgimento das irmandades se fez presente e importante na sociedade e ganhou muito mais notoriedade quando o Conde do Arcos (que era o Governador-geral vigente) se tornou membro de honra, levando assim, outros a buscarem ingresso na Irmandade dos Martírios e entre as mulheres Irmandade dos Rosário dos Pretos. Onde inclusive as negras se faziam presentes. Assim, nos arredores da Barroquinha (terreno dos fundos), Iya Nassô e sua filha Obatossi, Iya Akalá e Iya Adetá originam o culto aos ancestrais, pois passaram colocar os assentamentos de seus orixás juntos, formando um culto semelhante ao atual candomblé.

Tatto Barros


Fonte:       Gaiaku Luiza. Carvalho, Marcos de. Pallas, 2006