terça-feira, 19 de maio de 2015

A DANÇA E A IDENTIDADE



      A mágica da tradição iorubana se dá já no primeiro contato com a religião, quando a música e a dança cumprem seu papel extansiante de elevar o ser humano a um outro patamar de consciência e percepção. 

" Mostrem-me como dança um povo e eu lhes direi se sua civilização está doente ou tem saúde" (Confúcio)

      A dança e a música são características fundamentais e basilares da tradição afro-brasileira, as orações, manifestações, personalidades são todas mostradas por meio dos gestos cadenciados construindo os fundamentos da religião. Segundo o Antropólogo Bourcier (2006), há registros históricos que comprovam a presença da dança ritual na vida do homem por pelo menos 14.000 anos. Sendo essa, o meio pelo qual ele se expressa, se comunica, se liga com a natureza e o espaço ao seu redor. Portanto, de importância sem igual o seu papel, principalmente aliado à religião. Numa relação música-dança, se estabelece a conexão homem-orixá, que o levará à uma possessão, cuja beleza e magnitude encanta a todos os presentes nas festas religiosas.
   

        IDENTIDADE, para o conceito antropológico, significa a manifestação de um mundo particular em que o eu está associado, tendo ligações comuns com o meio. Ou ainda, é o reconhecimento em que o individuo é próprio, conjunto de diversos carácteres que diferenciam e particularizam o individuo. A CULTURA NEGRA, no Brasil, passou por gigantes dificuldades e crescente preconceito, o que dificulta a sua aceitação no meio social extra-afrorreligioso, fazendo com que percebamos que as religiões negra não sejam aceitas como 'dignas' para os padrões cristãos vigentes na sociedade, ou mesmo valores descendentes do pensamento ultra-cristão dos séculos de outrora, como a não aceitação da alma do negro, ou ainda, o negro como objeto de posse.  Porém, ainda que submisso socialmente, a rica cultura africana se misturou intensamente à branca, as vezes, não possibilitando o destrinchar das misturas, indicando a grandiosidade das tradições. Por exemplo, a comida, a dança, os vocábulos, dentre outras. Mesmo que embranquecidas todas essas características pertinentes aos negros se fizeram e se fazem presentes na brasilidade.
        A música e a dança são, em suma, partes integrantes da religiosidade negra. Os movimentos, o modo como se coloca o corpo, a música, a intensidade ou mesmo o volume desta tem representações específicas onde o detalhe constrói a riqueza. As orações são entoadas em formas de cantigas, onde as tradições se fazem, de modo que a cultura e as lições mitológicas que explicam a ritualística. Cada cantiga é composta por melodias específicas que se repetem de acordo com o objetivo de cada uma. Por exemplo, o toque/melodia "Oiê" se faz, sempre para saudar cargos religiosos, os religiosos, as funções religiosas, exaltar os orixás, solicitar bênçãos e sabedorias, dentre outras funções. Sempre se dá da mesma forma, intensidade e melodia variando apenas a letra que se canta. Aliado a esta reza está a dança, há uma dança específica para cada melodia entoada, em que os passos são pouco espaçados, mas os ombros e os braços são as partes do corpo em evidência, já que o pé pouco se move. E, às vezes, é tao complexa a aliança música-Dança que há diversos movimentos específicos para cada melodia, visto que a letra orienta os passos e coreografia. 
        A dança é parte fundamental da formação da identidade da pessoa que faz parte da religião, aprende-se com o tempo e dedicação, como forma de aquisição por merecimento e experiência. Assim, faz parte da formação da identidade religiosa, visto que, teoricamente, quanto mais velho dentro das tradições, quanto mais viveu dentro das tradições, mais sabedoria e conhecimento se agrega e, logo, mais se aprende a dançar. Numa cadência de conhecimento que é tão rico que parece não acabar o aprendizado.



POR QUE SE DANÇA?

 “O mundo está dentro de nossas casas, nas diferentes localidades. Nosso cotidiano é perpassado pelas coisas do mundo” Fonseca (2010, p. 129) 


        A dança é a identidade, nas palavras de Confúcio e Bourcier (já citados), a aplicação da dança e música está associada a manifestação da fé desde os tempos remotos. O candomblé, a umbanda, e outras religiões chamam automaticamente, no êxtase da fé, o movimento do corpo, que acompanhado pela música se faz a dança. Já que os movimentos ritmados representam a arte complexa da dança.
       Porém, a dança ritmada no candomblé está relacionada de maneira coreografada e isso se faz para ensinar o corpo as características de determinados orixás. E mesmo de determinados fundamentos religiosos. Xangô, o orixá do fogo, da justiça, senhor dos trovões, por exemplo, não poderia ter como dança representativa movimentos lentos, doces, sutis. Como o orixá é a manifestação do fenômeno da natureza, tal qual o trovão, o fogo, o vulcão, ele é ágil, brusco, rei, forte e guerreiro. Sua dança (Alujá) vai acontecer com braços arqueados, como que segurando dois machados (oxês), com movimentos rápidos e compassados, sem perder a vaidade que lhe é própria.
      Muitos questionam a necessidade de ensinar o yaô a dançar, visto que, ele já entra em possessão de orixá, então acreditam que a dança deve se desenvolver automaticamente com o tempo. De fato, isso também ocorre, o processo de aprendizagem é constante, a coreografia se aprende vendo e fazendo. Mas, devemos lembrar que a dança é a manifestação do locus em que se vive. NÃO VIVEMOS NA ÁFRICA, portanto o movimento concreto próprio do povo africano e, logo, daquele orixá não se faz presente em nós. Aprendemos porque não possuímos a identidade própria do povo de origem. Por exemplo, aprendemos o Alujá, porque não possuímos as identidades, características e movimentos ritmados naturais do povo de Oyó (Terra de Xangô).
      De maneira geral, percebemos que a manifestação da fé se dá de maneira complexa para a tradição iorubana, mesmo a daomeana. Visto que, a formação constante da identidade e seu conjunto de características se lapidam com tempo e experiência com a música, a dança e a língua que são próprias da tradição de Ketu, de jeje ou de Angola. O movimento do corpo, o comportamento do corpo, o ritmo adquirido pelo corpo e a habilidade com a dança se faz com o tempo e a senilidade religiosa. IDADE É POSTO!



                                                                                                                                   TATTO BARROS

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A INICIAÇÃO - Ligação entre o homem e o Orixá


(Carybé)

A religiosidade se faz de maneira diferente em cada ser humano. A diferença entre os religiosos do candomblé e os demais é que, para aqueles (os do candomblé), a conquista do Sagrado e das bênçãos divinas se dá a todos não pela religião ou pela crença, mas pelo caráter que banha cada cabeça. É partindo desse ponto de vista que, numa questão sociológica vemos a diferença entre estes religiosos, da tradição africana, e os religiosos da tradição cristã e branca, onde nesta o domínio, o sofrimento, a penitência e a necessidade de se findar historicamente esteve relacionada com a precisão de impor seus pensamentos espirituais e criar a teoria de que apenas por ela se dava a salvação.
Não é assim que ocorre no candomblé. Para o Povo de Santo, não nascemos amaldiçoados, não somos banhados pelo pecado, não há inferno e não há juízo final. Ainda para os descendentes iorubanos não há demônio, lúcifer, diabo ou qualquer coisa afim. Dentro da tradição da cosmogonia iorubana, percebe-se que a escolha entre o certo e o errado, cabe a cada um, em sua individualidade e subjetividade, conceituada como Ori, não havendo influências de um ser superpoderoso e inimigo de Deus.

Assim, a tradição se faz.


INICIAÇÃO AO ORIXÁ

Popularmente chamado de Fazer o Santo, por isso a denominação povo de santo, a iniciação é pura manifestação da vontade de uma pessoa que conheceu a religião e ali encontrou seu espaço e sua necessidade de prática da fé. Quando conversamos com os iniciados, eles revelam que a feitura foi uma necessidade espiritual, outros revelam que foi por amor e há outros que revelam estar cumprindo um destino.
A relação entre destino e a necessidade da realização da feitura é uma questão complexa de ser abordada pois, esta geralmente se faz por questões de caminhos de destino, em que cada pessoa, independente se estão ou não na religião, nasceu sobre a influência, a este caminho do destino dá-se o nome de Odú. Assim, num sistema quase que matemático, a primeira vista, para o leigo, a vida da pessoa está traçada e ali está escrita sua necessidade de cumprimento ou não para com a vida religiosa, seja esta onde for.
Aqueles que dizem que a feitura de santo está relacionada com a necessidade espiritual, foram as pessoas que conseguiram alcançar alguma benesse, por exemplo, saúde, quando se iniciaram para o Orixá. (Obs. Esta abordagem está bem ampla, não especifica, com o tempo detalharemos algumas coisas, que não devem ser desconsideradas) 


FUNDAMENTOS DA INICIAÇÃO ESPIRITUAL

Os fundamentos dos diferentes rituais são mais que conhecidos pela humanidade, em todos os tempos, antropólogos da atualidade afirmam categoricamente que tudo aquilo que permeia o ser humano e tem considerável importância, passa por rituais, ou melhor, implicam em rituais de passagem. Por exemplo, o nascimento, o primeiro banho, a primeira roupa, a formação universitária (com o evento da formatura, entrega de canudos, etc). Ou seja, uma sistematização para a marcação da importância de determinada situação.
Acontece que o ritual de iniciação, o vestibular da cultura nagô, está relacionado, de forma intensamente considerável com religar a pessoa, por diversas formas ao passado, com seus ancestrais, com a África, com os Orixás. É uma passagem que será um marco para aquilo que caberá ao iniciado fazer a todo instante de sua vida, reconexão com passado e com o interno. A expansão nesse caso, caberá por acontecer para trás e para dentro e o ápice se dá quando o neófito é capaz de perceber o porquê dessas ações.


PARA TRÁS E PARA DENTRO

“a maior parte das provas iniciáticas implicam de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual se seguiria uma ressureição ou novo nascimento. O momento central de toda a iniciação vem representado pela cerimônia que simboliza a morte do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas, o que volta a vida é um homem novo, assumindo um modo de ser distinto...” (Mircea Eliade. 1958, p.12).
Para entender o processo de iniciação das tradições iorubanas, precisamos a priori, resgatar os conceitos de Orixás. Estes são os Ancestrais Divinizados, que podem ser classificados em dois grandes grupos: Aqueles que viveram a condição humana e aqueles que nasceram divinizados. Portanto, quando se classifica a tradição como uma necessidade de resgate do passado, uma reconexão com aqueles que já estiveram aqui, se explica a necessidade constante do voltar e olhar para trás pois, ali se encontram as fontes de bênçãos e sabedorias para os crentes da religião afro-brasileira.
Por que para dentro? Simplesmente porque o processo ocorre por internalização física e emocional. De maneira complexa que a tradição e os segredos impeçam que seja abordado, ocorre a internalização do axé, palavra que em ioruba expressa, entre outras coisas, força. Quando ocorre a iniciação do neófito, o rito de passagem em que ele deixa de ser um abiã e passa a ser um Ìyàwó, este tem o dever de internalizar todas as lições e a se adaptar com algumas expressões da língua estrangeira que até então o era estranha. Aprende a rezar, aprende postura, aprende todas as regras que lhe são cabíveis para se tornar um bom iniciado, aprendendo com os seus erros e com o exemplo de seus irmãos mais velhos (Egbon).
                                                     


A VIDA DO ÌYÀWÓ  / A VIDA RELIGIOSA


                A palavra iorubana Ìyàwó tem como tradução a palavra Esposa, depois da feitura de suas obrigações religiosas caberá a este zelar pelo santo com o qual casou, aquele ao qual foi apresentado, aprendendo assim tudo que lhe for possível para cumprir  sua aliança.
                Há diversas críticas para serem apontadas às pessoas que fazem parte da religião hoje, porém estas são muito pequenas perto do brilho e da grandeza que a cultura negra tem a acrescentar no mundo. Infelizmente, hoje se perde muito com o silêncio dos mais antigos, o que é tremenda covardia e falta de amor para com a permanência das tradições. Em contrapartida, há aqueles que estão na religião mas, não fazem parte dela, o que significa que, são cruéis pois, suas presenças, em quaisquer que sejam as religiões são danosas. Isso porque, criam e vendem ilusões, sujam o nome das tradições com pseudo-sabedoria, deturbam dos preceitos e enojam os mais velhos, fazendo-os deixar de ensinar àqueles que amam a religião.
                Numa visão bem mais profunda, podemos dizer que o Candomblé não é apenas uma religião, mais do que isso é uma cultura, uma filosofia e uma tradição em que nos abençoamos e reconectamos com o sagrado. Os deuses nos abençoam com suas presenças, dançam e contam suas sagas e assim se faz a magnitude. A valorização do mais velho é mais que perceptível, já que nem na altura física destes, os mais jovens (não de idade civil, mas de idade religiosa) devem permanecer. Cabem a eles se prostrarem aos mais velhos em sinal de respeito, ainda com sinais de humildade e respeito às tradições cabe a eles se deitarem no chão (expressão conhecida como bater cabeça). Toda essa mágica se dá de maneira muito mais aprofundada e explicada, que ficaríamos páginas e páginas analisando.


Prox: Orixás, Ori, Odu!


 Ìwà (pèlé) nìkàn l’ó sòro o
Caráter (reto) é tudo que há!

OBS: Não sou douto em Iorubá, não falo o idioma, as palavras que pertencem a este são escritas da forma mais ‘aportuguesada’ possível para facilitar a leitura. Há blogs que ensinam o ioruba, a grafia coerente e tudo mais porém este não tem essa função!


TATTO BARROS

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O SACRIFÍCIO: Entre a Religião e a Sociedade

                                                         (Pierre Verger, Salvador-BA - 1946- 1953)

     Não se pode exigir que as pessoas sejam capazes de enxergar esse momento como Sagrado e, como tal, digno de toda a proteção do Estado e da Humanidade. O sacrifício animal é olhado, principalmente para os cristãos, como algo relacionado às malignidades e a desumanidade, já que a vida ali é extraída, para eles, com objetivo apenas de alimentar um sagrado que não atinge a benignidade na sua visão. Ou seja, quando o Deus de Abraão pede é divino, quando o Orixá, deus africano pede, demoníaco. Mostrando assim, a anencefalia cultural vigente em nossa sociedade.
"Depois faça um altar para o Senhor, o seu Deus, no topo desta elevação. Ofereça o segundo novilho em holocausto com a madeira do poste sagrado que você irá cortar" (Juízes 6:26)
"Se não tiver recursos para oferecer uma ovelha, trará pela culpa do seu pecado duas rolinhas ou dois pombinhos ao Senhor: um como oferta pelo pecado e o outro como holo­causto. (Lev 5:7)
    
     Há, nas passagens bíblicas, seguidas pelos Judeus, Cristãos e mesmo pelos muçulmanos, que apontam para a necessidade do sacrifício, superado ou não pelos tempos. Mas, a visão dessas religiões diante do sacrifício em nada acrescentam para o Candomblé e religiões africanistas, que vieram muito antes da chamada organização religiosa em si. O sacrifício, palavra que remete a Sacro Ofício, trabalho sagrado, consiste na reparação e oferta à natureza de tudo aquilo que ela nos fornece. A estrutura teológica do candomblé e religiões anexas se dá de maneira muito mais complexa do que parece.
    
“(...) os Pretos divididos em Nações e com instrumentos próprios de cada huma danção(...)”
    Essa passagem consta numa carta de José da Cunha Grã Ataíde de Mello, o conde de Povollide, para o Rei de Portugal em 1780. Pode-se facilmente perceber que o povo negro tem suas divisões religiosas e complexidades que os diferenciam e juntam na mesma proporção e a dança os une. Em Luis Nicolau Parés (1960-70) se pode destacar também a preocupação do povo negro para com "sustentabilidade da vida neste mundo". Assim, a oferta à natureza cumpre seu papel, pois, cabe a ela o reequilíbrio e a reconexão dos seres presentes com o sagrado energético, os orixás são os símbolos prioritários das forças da natureza que se manifestam com danças e músicas. Sendo o alimento um dos laços estabelecidos com a humanidade pois, através deste nos mantemos vivos então, é por meio deste que o sagrado se faz em nossa existência.

PARA QUE O SACRIFÍCIO?
    
     A imolação dos animais, oblação, é feita no afã de energizar, dar vida à uma energia sobrenatural, objetivando fazê-la presente na terra. Em Os Nagô e a Morte, de Juana Elbein, lê-se que o sangue contem todos os elementos necessários para a manutenção da vida.
    A principal crítica da manutenção das ritualísticas está associada com a necessidade de, assim como os cristãos, abolir a prática por motivo de evolução social, porém vem à mente perguntas como:
- Já aboliu os alimentos de origem animal de sua mesa?
- Come Ovos? Usa peles ou Couro?
- Bebe leite? Come queijos?
- Vai em churrascarias? Come em qualquer restaurante?
- Frango? Peixe? Boi? Carnes Exóticas?
     Se a resposta para qualquer dos questionamentos acima for SIM. Falar em oposição ao sacrifício animal é pura Hipocrisia, mostrando mais uma vez aquilo que é digno do ser humano: O preconceito enraizado, enfaixado e maquiado contra o negro e suas tradições. Criticar a oblação enquanto está com o estômago cheio de comidas de origem animal é a mais completa falta de bom senso e intelectualidade que o humano pode atingir.
    Ainda assim, restarão perguntas que são eficientes caso as leis passem a ser vigor social, quando houver (Se houver!) proibição do Ofício Animal dentro das tradições africanas devido aos clamores sociais (dos cristãos e anexos). Haverá também o fechamento de empresas que ofertam/abastecem o mercado com carnes? Daí entram outros fatores, os econômicos, que doerão no bolso, mesmo daqueles que clamam pela Liberdade Animal.
"A filosofia do candomblé não é uma filosofia bárbara,e sim um pensamento sutil que ainda não foi decifrado"
(Bastide, 1978).
 
 
ANIMAIS e FATORES RELIGIOSOS
 
 
 
     Os animais que serão ofertados aos deuses devem, em suma, compor àqueles que são servidos às mesas. Porque nada dele deve ser dispensado, tudo aquilo que vem do animal deve ser ofertado à sociedade para o consumo: a pele, a carne, os ossos, etc. Uma vez que haja o desperdício se ofendem as leis sagradas da religião. É por isso que os animais em extinção, ou silvestres não devem ser sacrificados, uma vez que não compõe o paladar da comunidade ou se farão ausentes na natureza, o que também ofende o sagrado.
     A definição de partes sagradas e uso delas não devem ser aqui escritas, em respeito às tradições. Mas, a valorização da vida do animal se dá em todo o instante, não há uma animalização do culto, ou mesmo culto ao sofrimento do ser, em todo o momento a dignidade das vidas é tida como valor primeiro. Dará, espiritualmente, força para toda comunidade e isso será representado quando todos comerem a carne, matéria física e representativa do axé!
     Óbvio, que falar de sacrifício é uma questão complicada, há aqui milhares de fatores que deixei de apresentar, que mais para frente poderemos abordar.
 
 
 
"(...) O sacrifício de animais nos terreiros dá-se numa forma milenar de cultura que não separa o divino, o humano e o natural nem mesmo no sofrimento. No sacrifício há uma única pessoalidade em metamorfose e renascimento. Por estarem congregados numa unidade, o sacrifício é um momento especial de fusão de destinos e renascimentos em uma unidade simultaneamente animal, humana e divina. O sacrifício só ocorre na medida e quando não há a recusa das três partes que se entregam ao acontecimento cósmico. As acuradas sensibilidades desenvolvidas na religião para o cuidado do animal não podem ser substituídas por técnicas veterinárias, porque aquelas são mais antigas, sensíveis, mais sofisticadas e sobretudo, abertas a insondáveis dimensões cósmicas (...)"

José Carlos dos Anjos - Prof. UFRGS


 
 
    As palavras do Professor Universitário José Carlos dos Anjos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vem neste momento delicado de tentativas de aplicação de Leis contra os negros e suas tradições, abrilhantar a causa e estender à sociedade um manto de luz que aclara a mentalidade conturbada e escurecida da população, que ainda habita as cavernas de citadas por Platão. Ir contra a ritualística é ir contra milênios de tradição e alimentar o preconceito contra a cultura negra e suas tradições. Desrespeito histórico e antropológico.

TATTO BARROS