domingo, 30 de agosto de 2015

SOB UM OLHAR OBSERVADOR


     Há muito a visibilidade negra, apesar do preconceito iminente, vem sendo creditada na sociedade, de modo que o contato com as tradições vem crescendo. Isso é importante, faz-se cada vez mais necessário agregar a todos os indivíduos a riqueza e a cultura intrínseca à religiosidade ketu, jeje e Bantu.
     As tradições (de Ketu, de Angola ou Jeje) apesar de suas imensas diferenças possuem suas similaridades (Não querendo ser paradoxo, mas já o sendo). Dentro delas, o amor aos deuses se faz presente e são eles os representantes da Natureza e a manifestação dos sentimentos e sensações humanas. Ou melhor, que os seres humanos possuem. Afinal, por que não dizer que todo desejo de amor materno, de cuidar, de zelar, por exemplo, são sentimentos/atributos de Iemanjá? (Nome que, em iorubá, significa Mãe cujos filhos são peixes, ou simplesmente, Mãe dos Peixes). Ou ainda, como não dizê-lo que na sociedade bantu, Iemanjá possui suas similaridades com Mikaiá, e ainda, sob o mesmo ponto de vista, nas tradições Jeje, Azli.
     Obviamente, a mistura das tradições pode trazer suas compensações porém certamente, deletará a riqueza que cada uma pode apresentar, individualmente. Mas, quem determina o limite?
     Apenas na tradição Ketu, o Ritual Fúnebre (Axexê), invoca nas três línguas, fon/fongbé (Jeje), Bantu (Angola) e Iorubá (Ketu), cantigas para o advento da passagem. Apresentando sua característica, no Brasil, de juntar e mesmo reverenciar as demais nações. Entretanto como dito, afora toda reverência, a mistura das nações pode ser danosa para a riqueza e mesmo a fidelidade às tradições.
     A beleza do Candomblé está em apresentar para as pessoas, um deus que se encontra presente, que se preocupa, que abraça, acalanta e demonstra o amor de maneira física, como apenas esta tradição o pode fazer. Um deus que canta, dança, come e abraça. Evitando assim, toda a frieza que tradicionalmente, a sociedade nos impõe sobre a figura divina.
     Conhecer a Cultura dos Orixás é acima de tudo reconhecer a ligação que temos com os deuses e sentir de maneira física, espiritual e mentalmente toda conexão que temos com a Natureza e a parte dela em nós. Para isso, devemos identificar a fidelidade das diferentes casas às suas tradições. A mágica da religião se dá pela riqueza do conhecimento deixado pelos nossos Ancestrais que são chamados como testemunhas, cada vez que rezamos os Obis, Orobôs e Lobaças. Ora, se os chamamos, estamos os convidando para validar as lições aprendidas, para validar a fidelidade que temos ou tentamos ter a toda sabedoria deixada por eles a nós. Há que se ressaltar que cabe a cada família de Axé, buscar suas origens e ser fiel às suas matrizes, afinal, nossa religião não tem bíblia porém, um acervo muito maior em rezas, cantigas, preces e danças que deixam suas lições. Podemos viver todos os dias aprendendo estas lições e ainda assim, em uma vida seria impossível assimilar toda bagagem de conhecimento que o candomblé tem a nos ensinar.






TATTO BARROS