Em países muito místicos (...), o povo deixa de trabalhar porque
fica tão místico, que deixa de fazer as coisas certas para poder chegar num
objetivo. Em países mais racionais, que têm uma fé em deus, mas que acredita no
esforço, no suor, no trabalho, no você 'se portar', ter um casamento e ter que
cuidar dele, esses países vão mais pra frente. Então, um exemplo: a África é
muito mística, e a gente vê as consequências, e os EUA é mais racional,
protestante, onde acredita no suor. Então, eu acho que a gente tem que avaliar
nossa crença através dos frutos que elas nos trazem",
Leia mais: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/patricia-abravanel-fala-de-misticismo-africano-causa-nova-polemica-nas-redes-sociais-19597977.html#ixzz4Ct8ZSv00
Leia mais: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/patricia-abravanel-fala-de-misticismo-africano-causa-nova-polemica-nas-redes-sociais-19597977.html#ixzz4Ct8ZSv00
Há muito, uma pequena parcela da
população brasileira vem lutando para que as barreiras da intolerância
religiosa e sua carga negativa na sociedade se rompam. Porém, desconstruir um
pensamento estruturado numa herança cultural com normatividade cristã e racista
é um processo moroso e requer várias ações para a constituição de uma lapidação
e ruptura de um pensamento dominante. A sra, Patrícia Abravanel, há pouco,
manifestou sua opinião acerca das problemáticas africanas, atribuindo todos os
seus malefícios as questões religiosas, porém o que não sabe é que, durante
séculos, o CONTINENTE Africano, pois não é um país, nem tampouco homogêneo,
sofreu invasões e domínio dos cristãos, que sugaram tudo e mais um pouco que o
continente possuía e, não obstante, inclusive seu povo e culturas.
Os ataques hostis são muito frequentes
em nosso país, devido ao Ódio e a Intolerância Religiosa, entretanto são poucos
aqueles que repercutem na mídia, como o caso da Justiça Federal do Rio de Janeiro em 2014, que desclassificava as religiões de
matriz africana como religiões de
fato, ou mesmo, o caso da Menina Kailane
de 11 anos que ganhou notoriedade por ter sido apedrejada em 2015, por estar
trajada nos confortes da tradição candomblecista (ela não se ‘portava’ de
maneira correta?). Ou ainda o caso, no Rio de Janeiro, no ano de 2014, do
estudante que foi impedido de entrar na escola, devido as paramentas religiosas
que deveriam ser utilizadas por ele por ser uma época ritual. Neste caso, inclusive a mãe do garoto, Sra. Rita de
Cassia Araújo, recebeu o pedido de desculpas formais do prefeito da
cidade.
Preconceito Religioso, Intolerância religiosa,
são monstros alimentados diariamente e pessoas morrem, pessoas perdem seus
empregos, pessoas perdem sua dignidade e mesmo identidades. A ponto de terem,
muitas vezes, de omitir sua fé.
Diferente de seu pensamento, Sra. Patrícia
Abravanel e demais correligionários (que pensam de maneira semelhante), o
objetivo das pessoas (porque somos todos diferentes um do outro) não se restringe
às conquistas financeiras, conhecemos pessoas muito bem-sucedidas que foram e
são extremamente infelizes, que se suicidaram, ou que doaram tudo e foram viver
em monastérios, ou ainda que surtaram... Não devemos avaliar o ser humano
pelo que ele tem, mas pelo que ele é, em sua integralidade. Outra questão de sua fala é associar fé com
racionalidade, dois termos muito complicados de serem trabalhados, para uma
pessoa com limitação intelectual. No caso a fé americana é Fé, em suas
palavras, e a fé africana é misticismo! Interessante colocação, porém,
falaciosa. Eu poderia analisar muitas outras questões desse discurso,
entretanto o tempo é escasso.
Não nos tornemos antropólogos de
botequim, cabe a nós, todos os dias análises críticas acerca do que falamos e
transmitimos afinal, de alguma forma, todos somos formadores de opinião,
principalmente aqueles que possuem acessos às mídias gerais que dispersam
aquilo que dizemos e fazemos. Quando falamos de fé, o assunto complica ainda mais,
pois mexe com a questão mais intrínseca aos seres, que é a identidade. A África
não é um continente homogêneo, lá há cristãos, muçulmanos, tribos das mais diferentes
possíveis e religiões mais variadas também. Os problemas ATUAIS africanos, todos, são oriundos da dominação cristã. Pois, em nome do Cristo, matou-se, roubou-se e
escravizou-se. A miséria daquele local se deu e se dá, Sra. Abravanel, graças à
sua religião, não à minha. Assim, todas as vezes, que abrir a boca para falar
da religião de matriz africana, lembre-se que a estrutura do preconceito
religioso, se respalda na estrutura do preconceito racial.
Tatto
Barros