REFLEXOS HISTÓRICOS E ANTROPOLÓGICOS
Certa vez Voltaire disse “Preconceito
é opinião sem conhecimento”. Isso é indiscutível. Toda a gama de ações contra o
povo de religião afro-brasileira não é mera ação religiosa, ou imbuída de uma
fé, apenas. Se o fosse, já seria criminosa e imperdoável. Entretanto, trata-se
do preconceito racial velado. Ação da sociedade como um todo, contra os negros
e sua ancestralidade africana.
Exatamente assim. Trata-se de uma
herança cultural, impregnada no cerne da sociedade branca, cristã e elitista. Percebemos
assim que o que é do negro não é digno se comparado com o que pertence ao
branco. Se uma pessoa se considera cristã, católica, judia, ou qualquer outra
denominação, seja no trabalho, na família ou nas escolas, esta não sofre os
olhares preconceituosos que um declarante de religião de matriz africana. Toda
a visão torpe do pensamento vitimista deve ser abandonado para perceber que os
seguidores do Candomblé e da Umbanda, em suma, por vezes mascaram sua fé e
tradição em nome de uma visibilidade mais agradável aos olhos da sociedade.
No trabalho, muitos escondem suas
tradições. Isso é um fato, inquestionável e claro. Evidente.
Se lançarmos um olhar sobre o
passado, conseguimos entender os motivos. Os pretos, escravizados, deveriam
esconder suas tradições, nas vestes e filosofias cristãs, impostas socialmente.
Aquele que não se convertesse morria, sofria no tronco, não que, o então objeto
tivesse alma, sobretudo para o agrado do capital, do senhorzinho, da burguesia
e do patriarcado.
Portanto, o preconceito religioso atribuído
às religiões de origem africana, são, em suma, formas veladas do preconceito
racial, historicamente, antropologicamente, filosoficamente intrínsecos nas
palavras e ações dos brasileiros. Thoreau disse, sabiamente, “nunca é tarde
para abrimos mão de nossos preconceitos”, mesmo porque a origem deles, por
vezes beira a animalidade ou o ridículo.
O preconceito religioso vem
assolando a humanidade há milênios, o preconceito aos membros das tradições afro-brasileiras,
pode começar uma guerra, mesmo que silenciosa. Pois, as batalhas e mortes, já vem
acontecendo, há muito, de maneira elíptica, e poucos estão percebendo.
Tatto Barros