As Baianas - Carybé
Segundo
Vygotsky, um pensador pedagógico do início do século XX, o estabelecimento e a
aquisição do conhecimento se dá de forma social, já que o homem é social por
natureza, ou seja, se estabelece em comunhão. A vida religiosa dentro das Tradições
de Ketu não foge à essa regra. A construção do eu e o papel a ser desempenhado
dentro da comunidade se dá pela observação dos outros, na cópia das posturas e
dizeres e assim, acontece o sucesso espiritual no agrado às Entidade
louvadas e felicidade estabelecida por se tornar com o tempo modelo para
aqueles que estão entrando na comunidade/religião.
O Sucesso
espiritual acontece quando tecemos uma rede de conhecimento, em reverência
àqueles que vieram antes de nós, sendo eles nossos mestres e exemplos. Toda essa
gama de conhecimento está relacionada aos hábitos inerentes ao Candomblé Ketu,
como a língua, a dança, as lendas (itan), vestimentas, posturas e etiquetas
gerais.
A priori, o
que observa-se com veemência ao entrarmos no ambiente religioso é a linguagem
estabelecida, além das vestimentas diferenciadas. O Iorubá é a língua vigente,
no qual se misturam palavras em português, como que soltas e tatuadas na
gramática religiosa. Um simples “- Oi” é respondido ou antecedido da expressão “- Motumbá”
que logo se faz respondida por “- Motumbaxé , Motumbá”, criando um ambiente
assim propicio para aquisição de uma segunda língua de maneira concomitante com
os outros aspectos comportamentais referentes à religião.
Isso porque,
todas as rezas e cânticos tradicionais se fazem nesse idioma, considerado sagrado
e, logo, a forma pela qual os orixás se comunicarão ou mesmo ouvirão as
súplicas e as adorações de seus fiéis. Com o tempo, o iniciante, Ìyàwó, vai
desenvolvendo suas relações com a língua, por meio das cantigas e suas
traduções, cujos mais velhos se deliciam em explicar e fazer o iniciado experienciar
o néctar dos deuses em forma de conhecimento que é supervalorizado dentro das
casas religiosas, afinal, conhecimento associado com tempo de iniciado
significa posto, postura e sabedoria. Principalmente, para aqueles que souberam
beber da fonte de seus mais velhos e com muita educação e respeito (rumbê),
ouvir e assimilar toda a carga de informações que serão relevantes no futuro e,
como uma corrente, passadas para os mais novos, não deixando a tradição morrer.
Afinal, o candomblé não tem um livro sagrado que fomenta e regulamenta o rito. As leis e tradições são passadas de forma oral. O que cria ainda mais a mágica
do segredo. E, é por isso que buscar informações na internet e comunidades virtuais, no
afã de aprender ‘axé’ é o mesmo que buscar pães no hospital. Candomblé se aprende com presença, aliança, dedicação e merecimento.
ÈDÈ YORÙBÁ
O idioma
Iorubá é tradicional, hoje, em algumas regiões da Nigéria, falado também em alguns locais subsaarianos, também Benin e Togo, e pelos
religiosos de tradição Ketu/lucumi. Idioma tonal e apresentado no mesmo sistema
que o português e o inglês, no tocante à gramática, o sistema SVO (Sujeito-
Verbo – Objeto).
Possui as
mesmas letras do alfabeto português, excetuando, C, Q, V, X e Z. Com acréscimo das letras Gb (som de B, com
estalo), E (som de É aberto), O (Som Ó aberto), S (som de
X, CH).
A importância do idioma é tamanha, visto que, é por meio da boca que reza que as entidades são invocadas, que os Deuses dançam e que toda a religião se faz, a boca que reza é sagrada, portanto, aquele que porta a palavra deve ser tratado e, o é, com muito respeito e esmero. Ignorar a importância de estudar e se dedicar ao aprendizado do idioma é o mesmo que abdicar da compreensão de fazer o que faz e aprender o que faz e porque faz.
Uma vez, um homem muito sábio me disse: "- Se não faz sentido, está errado. Candomblé tem que fazer sentido, menino!"
Hoje eu digo a ele: A benção Pai!
TATTO BARROS