"A cultura é o melhor conforto para a velhice"
Luz Negra - Rogério Braga
Vivemos em
tempos em que, a cada hora, o número de idosos cresce em asilos, como se a família
não tivesse tempo para cuidar dos seus. Assim, junto a velhice vem a solidão, o
abandono, a tristeza... que acometem a saúde não só mental do idoso.
Nesse instante
em que o jovem se dissocia cada vez mais da família, das tradições, dos
propósitos espirituais (não faço apologias religiosas nessa expressão),
filosóficos e, muitas vezes, sociais, o candomblé vem à tona com sua
supervalorização dos idosos. Uma valorização que emprega uma carga moral à
religião, que só sobrevive pelas questões orais, preservadas e professoradas
pelos mais antigos. Assim, teoricamente, quanto mais antigo mais sábio, uma
enciclopédia viva de todo teor teológico e teosófico de nossas tradições.
As profundas
transformações sociais em que vivemos tem balançado nossos conceitos de família
e mesmo, de responsabilidade. Zygmunt Bauman, um pensador, sociólogo da
contemporaneidade, desenvolveu um conceito que é muito bem aplicado para este
momento: Modernidade Líquida. Que se refere às constantes necessidades de
transformações para adaptação ao meio. Uma teoria muito interessante que define a atualidade.
Os conceitos
morais/éticos parecem estar cada vez mais abalados, ou mesmo relegados ao
segundo plano, perdendo para o bel prazer, satisfação momentânea ou para o
mercado. A família hoje, tem se colocado muito mais para o trabalho que para a própria
valorização da vida, da felicidade ou mesmo do cuidado e manutenção dos laços.
Os pais contratam profissionais para a educação dos filhos, dão às escolas a
responsabilidade sobre a formação moral, ética, profissional, porque educar dá
trabalho e exige tempo. Justamente nesse instante, o afeto é rompido. Lacan, um
grande psicanalista francês, emprega em suas obras que o papel dos pais está também
em castrar o excesso de liberdade, valorizando a união, o respeito, a ordem que
começam dentro de casa. Não há rédeas que segurem um adolescente sem limites ou
noção de respeito. Tudo começa pela boa educação e respeito
professorados pelos responsáveis.
E nesse orbe
de pensamento compreendemos que o papel dos pais está por sobre além de bancar
uma educação, saúde, segurança de qualidade fora de casa. Eles devem, dentro de
seus lares, ensinar o respeito e a valorização dos laços, dos avós, tios, primos, etc. Quando as noções do amor,
respeito e valorização não estão bem empregadas esses mesmos pais colherão a
amargura de uma velhice na solidão. Ou ainda, o afastamento afetivo antes dessa
idade.
O candomblé,
em contrapartida a tudo isso, é uma religião e cultura tradicional, onde a
valorização do ancião (velho, idoso, antigo, agbá) se dá a todo instante.
Porque onde a cultura é oral há a necessidade do culto e reverência às Bíblias
Vivas.
Não comer
antes do mais velho. Não se sentar na mesma altura que o mais velho. Não falar
mais alto que o mais velho. Não se postar acima da cabeça do mais velho. Pedir
licença ao passar pelo mais velho. Não se estabelecer numa conversa entre os
mais velhos. Essas são todas lições que nos trouxeram até aqui, com a
valorização da senescência associada com amor e respeito. Caso essa modernidade
adentre em nossas tradições, ela pode nos afetar negativamente, fazendo-nos acreditar
nos fundamentos teológicos de livros, ao invés de pessoas que se prostraram e
viveram a religião durante as décadas da caminhada.
TATTO BARROS
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