quinta-feira, 12 de abril de 2018

POR QUE ESCREVER SOBRE CANDOMBLÉ É DIFÍCIL?





         É muito difícil falar de candomblé, visto que se trata de uma tradição expressamente oral e aprendida diariamente na convivência em comunidade, nas funções religiosas. A função religiosa é todo preparativo ritualístico ou não que torna possível a existência do candomblé e sua apresentação à sociedade, seja a sociedade correligionária ou mesmo a civil, não pertencente, de maneira iniciática à religião.

            A história não está ligada ao homem, nem a qualquer objecto em particular. Consiste inteiramente no seu método; a experiência comprova que ele é indispensável para inventariar a integralidade dos elementos de uma estrutura qualquer, humana ou não humana. Longe portanto de a pesquisa da inteligibilidade resultar na história como o seu ponto de chegada, é a história que serve de ponto de partida para toda a busca de inteligibilidade. Assim como se diz de certas carreiras, a história leva a tudo, mas contanto que se saia dela.

Claude Lévi-Strauss, in “La Pensée Sauvage (1962)



            Para Strauss (1962), a história por si só não está ligada ao homem, talvez pelo fato dela ser associada ao relato unicamente, ou estabelecer um parâmetro temporal e se preocupar com o método. Assim, quando se escreve, se relata, historicamente. É a partir da história que se ressalva aquilo que aconteceu, a forma que aconteceu e como foi o sentimento no ocorrido. Entretanto, para seu biógrafo, Denis Bertholet, Strauss tem em sua obra um enfoque que se debruça sobre o homem e sua construção, dissociando e associando o indivíduo à sua obra, com fusão e com fissão. Produto e produtor. Esse é o papel da Antropologia. Encontrar a si mesmo dentro dos padrões culturais e analisá-los dessa forma. Talvez o que haja de mais verdadeiro seja toda essa subjetividade envolvida no viver.

            No caso do candomblé, a sua história ritualística é acabada, ou seja, está construída e respaldada, entretanto o aprendizado de tudo (ritual, dança, língua, canto, comidas...) se dá de acordo com o tempo e vivência, numa ode a senescência, como já descrito neste blog. Assim, quando eu falo sobre a religião, represento, com ou sem autorização, todos os meus ancestrais, sendo eu digno ou não de tal fato. Outrossim, estou sobre o julgamento dos meus iguais ou superiores. Isso porque a tradição é oral e vivida, não registrada.

            Resumidamente, falar sobre candomblé é falar sobre resistência, história, vivencia e segredos. Assim  as barreiras são tantas e tamanhas. Cada palavra deve ser medida a fim de não destruir ou manchar o nome dos ancestrais da pessoa que fala. Nem pôr o que foi dito em situação de dúvida ou efeito falacioso.


Bibliografia:

https://www.comunidadeculturaearte.com/as-teorias-e-conceitos-de-claude-levi-strauss/
https://www.britannica.com/biography/Claude-Levi-Strauss
https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa/saiba-mais-sobre-levi-strauss-o-pai-da-antropologia-moderna,004d43e78784b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
imagem: https://br.pinterest.com/pin/84724036719032407/

Nenhum comentário:

Postar um comentário